segunda-feira, 23 de abril de 2012

Cão abandonado

Sou um cão abandonado, sou um velho sem rumo
Passeio na rua sem ser visto, sem ver ninguém
Sou a droga que consumo
Sou a mágoa de alguém


Sou um cão abandonado, sou um herói esquecido
Sou a sombra do meu medo, talvez perdido
Sou a minha própria trela, e com ela me amordaço
Sou a pedra da calçada , perdida no teu regaço


Sou um cão abandonado, sou um barco ancorado
Sou as velas rasgadas que um dia navegaram
Sou saudade e angústia, que deixei no porão
Sou o vento que me arrasta e me tira o chão


Sou um cão abandonado, uma criança a brincar
Sou o pião que um dia tu viste a girar
Sou o xadrez que jogas com o coração
Sou eu quem se ajoelha rogando perdão


Sou um cão abandonado, arremessado contra a valeta
Sou o cigarro que fumas, quando te dá na veneta
Sou a sorte abençoada numa noite de casino
Sou um pobre peregrino, sem norte e sem destino


Sou um cão abandonado, entre curvas e ruelas
E continuo sem ser visto, coberto pelas velas
Se um dia passares por mim, finge que não me vês
Sou um cão abandonado que não quer saber quem és.

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